quarta-feira, 31 de julho de 2013

Listening V

"Te encontrei lá embaixo no bar e ouvi
Mangas arregaçadas na sua camiseta de caveira
Você diz 'Por que transou com ele hoje?'
E me cheira como se eu fosse Tanqueray

Porque você é meu companheiro, meu cara
Entregue-me sua Stella e voe
Quando estou porta à fora
Você me arrasa como Roger Moore

Eu me enganei
Como eu sabia que enganaria
Eu te disse que eu era encrenca
Você sabe que eu não presto

Lá em cima na cama com meu ex-namorado
Ele está no lugar certo, mas não consigo ter prazer
Pensando em você nos lances finais,
É quando eu gozo

Corro pra te encontrar, batatinhas e cerveja
Você fala "quando estivermos casados",
porque você não tem rancor
"Não haverá mais nada dele"
Eu chorei por você no chão da cozinha

Eu me enganei
Como eu sabia que enganaria
Eu te disse que eu era encrenca
Você sabe que eu não presto

Doce reconciliação, Jamaica e Espanha
Estamos agora como estivemos antes
Eu na banheira e você na cadeira
Lambe seus lábios enquanto eu molho meus pés

Então você nota uma pequena mancha no carpete
Sinto um frio no estômago e me agito por dentro
Você não dá a mínima e isso é o pior
Você realmente cravou a faca primeiro

Eu me enganei
Como eu sabia que enganaria
Eu te disse que eu era encrenca
Você sabe que eu não presto"
Amy Winehouse -You Know I'm No Good




terça-feira, 30 de julho de 2013

Listening IV

A Loba

Sou doce, dengosa, polida
Fiel como um cão
Sou capaz de te dar
Minha vida...

Mas olha
Não pise na bola
Se pular a cerca
Eu detono
Comigo não rola...

Sou de me entregar
De corpo e alma na paixão
Mas não tente nunca
Enganar meu coração
Amor pra mim
Só vale assim
Sem precisar pedir perdão...

Adoro sua mão atrevida
Seu toque, seu simples olhar
Já me deixa despida
Mas saiba que eu
Não sou boba
Debaixo da pele de gata
Eu escondo uma loba...

Quando estou amando
Eu sou mulher de um homem só
Desço do meu salto
Faço o que te der prazer
Mas, oh! meu rei
A minha lei
Você tem que saber...

Sou mulher de te deixar
Se você me trair
E arranjar um novo amor
Só pra me distrair...

Me balança mas não me destrói
Porque chumbo trocado não dói
Eu não como na mão
De quem brinca
Com a minha emoção...

Sou mulher capaz de tudo
Pra te ver feliz
Mas também sou de cortar
O mal pela raiz...

Não divido você com ninguém
Não nasci pra viver num harém
Não me deixe saber
Ou será bem melhor prá você
Me esquecer...


Alcione

sábado, 27 de julho de 2013

Mensagem

Certa vez estava sentado em meu banquinho, olhando a chuva que batia na terra, sentindo o cheiro da lama, observando as folhas caindo no chão. 
Eu já vivi demais. Já sofri demais. 
É por isso que eu escrevo essa mensagem, para uma velha amiga, que infelizmente nunca me visitou. E que nas vezes que eu a vi de perto, nunca fez questão de me dar um abraço.
Eu sou tão nojento assim? Pra ela não querer dançar comigo?
No começo, quando eu era menino, eu nunca fui de gostar dela, temia ela por demais. Sabe? Quando ela veio levar meus pais pra dar um passeio, eu gritava pra ela "Sua vadia!". Haha velhos tempos...
Depois, na minha adolescência, eu encontrei ela poucas vezes, foi visitar meus amigos. Nada muito grave, eu não tinha mais medo, mas não simpatizava com a danada.
Terminei os estudos, comecei a trabalhar, logo já arrumei um pedaço de mal caminho. E casei.
Ela não teve filhos. E olha que nós tentamos muito. Ficou desgostosa da vida...
Coitada da minha esposa, entrou em depressão. Se matou. E minha coleguinha veio buscá-la.
Eu fiquei sozinho. Por anos. Não tinha espaço pra mais ninguém nesse meu coração. Oh tristeza que eu passei. Eu ainda não queria partir. Sempre preso a coisas materiais. Aos poucos eu fui sentindo o peso.
Bebia todos os dias, como se não houvesse amanha. Mas isso não me curou. Cometi um atentado com minha própria vida, mas nem pra isso eu prestava. Decidi esperar a desgraçada vir me buscar.
A essa altura do campeonato nenhum receio contra ela eu tinha. Mas a danada nem quis saber de mim.
Eu, que considero essa desgraçada uma redenção. Um alívio pra minha alma carente. Uma porta de entrada pra encontrar meu grande amor. Nem pra isso eu sirvo. Nem a própria morte deseja um velho imundo. Tudo que eu imploro senhora, é que mande seu ceifeiro pra já acabar com essa vida medíocre.






Parte de pai

Eu sei que na infância fui mais carinhosa, mais humana, mais você.
Eu ainda sou uma garotinha, que desconhece a maturidade e acha que pode ganhar tudo no grito.
Com o coração quebrantado e alma perfurada, me despeço.
Não vou te visitar, nem se quer vou no teu enterro.
Quero distância da morte, ela me assusta e me acompanha todos os dias.
E não vou chorar pela sua partida. Eu raramente choro pela morte de alguém.
Deixo claro também, que a culpa não é minha, porém, a infância me deixou marcas.
Eu sei que não vai me esquecer. Você esqueceu de todos e lembrou daquela que te deixou quando você mais precisou. Me perdoe.
Não sei se vamos nos encontrar de novo.
Descanse em paz. Vá em paz. Seja a paz.
Sentirei sua falta.
Bênção vô.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Listening III

De Todos Os Loucos do Mundo

De todos os loucos do mundo eu quis você
Porque eu tava cansada de ser louca assim sozinha
De todos os loucos do mundo eu quis você
Porque a sua loucura parece um pouco com a minha

Você esconde a mão, diz que é Napoleão
Boa parte de mim, acredita que sim
Se eu converso com ar, no meio do jantar
Você espera a vez dele de falar

Você fala chinês, pela primeira vez
Eu dou opinião, num perfeito alemão
Se eu emito um som que você acha bom
A gente faz um dueto fora do tom

De todos os loucos do mundo eu quis você
Porque eu tava cansada de ser louca assim sozinha
De todos os loucos do mundo eu quis você
Porque a sua loucura parece um pouco com a minha


Clarice Falcão

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Desabafo.



Eu gritei. Cantei. Louvei. Chorei. Me exaltei.
Berrei ao mundo o meu modo de pensar.
Deixei claro todos os meus defeitos.
Fui ignorada. 
Diziam acreditar, apenas para me classificar.
Desisti.
Aceitei os fatos, engoli a culpa e abracei o inimigo.
Me fiz em cacos, mas ninguém montou.
Hoje peço perdão a minha vida, que tanto aguentou por nada.
Chega de tormento.
Haverá sossego.
Decidi apagar a minha história.
Minhas pegadas serão esquecidas, devido ao inchaço dos meus pés.
Meus textos serão rejeitados, por não saberem quem realmente sou.
Minha garganta foi decepada, queimada e hoje não tenho voz.
No mundo em que me encontro, estou morta, porém, viva.
Deixo para vocês cada parte do meu corpo espalhado pela cidade.
Deixo também esta linda melodia em forma de protesto , que se chama silêncio.


Tributo











Ao nada!















Listening II

"O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz"
Chico Buarque - O meu amor 




Decomposição




Outra vez suspiro, mexo meus dedos, contorço, uivo. Lembranças...
Estou morrendo.
Dor, ódio, amor, perdão.
Estou fraca, estou farta.
Uma última lágrima escorre, nem me importo mais em secá-la.
Fecho os olhos, sinto o tempo, o ar. Meu coração bate lento.
Estou apodrecendo, e já posso sentir os "vermes" desejando minha carne.
Eu morri por mim mesma um milhão de vezes. E essa é só mais uma.




terça-feira, 23 de julho de 2013

Oferenda a Senhora das Trevas.

Longe dos olhos humanos, ela caminha, carregando uma rosa e uma adaga entre os seios.
Trazia um sorriso estonteante, de inebriar qualquer alma corajosa. Seus cabelos negros flutuavam conforme o vento batia. Seus braços e pernas  desnudos mostravam o ardor de sua pele morena. Ela é rápida, mesmo mantendo toda sua formosura, não demora a chegar.
Me observa.
Olha minhas mãos, toca meus lábios, cheira meu cabelo, desliza as mãos sobre minhas coxas, massageia o meu ventre. 
Estou aflita. Sua presença me incomoda.
Um calafrio desce pela minha espinha conforme suas unhas arranham minhas costas.
Pequenas mãos me arrancam a capa. 
Não é ela. Não são as mãos dela.
Tensiono.
Estou nua.
Sinto o vento entrar por minhas entranhas, mas não sinto frio. Pelo contrário, sinto o calor exalando daquela mulher que me observa. 
Me deitam sobre a pedra. Ela se aproxima, brinca com meus seios arreganhando um largo sorriso.
Fico sem ar. Sua beleza me embriaga tanto que eu mal podia ouvir os tambores e as cantorias das mulheres pintadas de vermelho.
E num breve momento, recita algumas palavras, olha no fundo dos meus olhos e me beija a boca.
Sinto meu espírito ser sugado. E uma pontada fria entra em meu peito. O sangue escorre.
Estou desesperada, mas ela me acolhe. Afaga meus cabelos e me beija a testa. E antes do meu último suspiro, ela reza para uma tal Senhora das Trevas.


Acalento

Olhos vermelhos. Sangue pelos móveis. Respiração forçada. 
Dia difícil.
Saiu as 4h , pegou o metrô,atravessou a passarela, sorriu para a recepcionista, discutiu com o chefe, arrumou suas coisas. Saiu.
Correu entre os carros, parou no banco, sacou o dinheiro, 
foi roubada.
Andou na calçada, parou num beco, pediu cocaína, 
foi violada pelo traficante.
Sentou na praça, rezou.
Chegou em casa, boa noite ao porteiro, subiu ao terceiro andar, bebeu whisky, pegou a faca e o fio, deitou no sofá. Chorou.
Cortou os pulsos, deitou no chão, sangrou.
Foi na janela, amarrou o fio, deu um nó em volta do pescoço. Pulou. 

Escute velho.

Velho porque já passou da hora de abandonar a juventude.
Chegou a hora de crescer e seguir o seu destino.
A hora de abandonar o passado.
Chega de mesmice.
O mesmo chá no café da manhã.
Menta.
A mesma carne no jantar.
Vermelha.
As mesmas palavras nos textos.
Dúvida.
A mesma pegada na cintura.
Forte.
O mesmo olhar infernal.
Fome.

Experimente.
Mude.
Cheire.
Descubra.
Esqueça.
Siga em frente.

Este é meu ultimo aviso.

Vou envenenar o teu suco.
''Roubar'' a tua carne.
Queimar suas palavras.
Cortar os seus dedos.
Vendar os teus olhos.

Escute velho.
Não é ódio.
Se fosse, não lhe guardaria ódio com tanto amor.


Só mais uma.

Me admira você, fazer questão de uma menininha fútil e dissimulada.
Me admira você, bajular tanto esse projeto de gente,que é tão diferente que é igual a todo mundo.
Toma vergonha.
Isso é amor?
Ela não passa de uma jovem meretriz. Que sonha com coisas tolas.
Que faz intrigas. Que se sente a amada, a poderosa.
Ela usa de seus sorrisos, seus carinhos, sua simpatia pra cativar você.
Mas ela é que nem qualquer um. Só mais uma idiota no mundo.

Câncer.

Caminhava, esbanjando sua autoridade, seu ar robusto.
Exalava mistério.
Não olhava só para você, olhava dentro da sua alma. Ele sabia.
Amava, porque aquilo o movia. E não importava quem, ou como.
Ele dava a alma por aquele amor.
Competia. Não ganhava.
Sofria. Era um pesar muito grande perder.
Explodia. Era inconsequente.
Vingava. Era o seu maior prazer.
Era feito de carne, ódio, paixão, desejo, rancor...
Ele era de câncer.

Red.

Sua vida é uma mentira.
Uma peça mal feita.
Um boneco quebrado.
Um cabelo tingido.
Ele não te ama, ela não te ama, você se ama?
Sempre querem algo de você.
E você nunca recusa.
Distribui favores, meiguices e travessuras.
Seu sorriso é doce. Será?
Eu acredito que chegará o tempo em que se esconder atrás da puta bondade será impossível .
Um tempo de sangue, um tempo vermelho.
Que nem os olhos mais bonitos poderão te salvar.
O vermelho vai desbotar.
A transparência da tua alma irá mostrar sua verdadeira cor.