quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Reis III

Envenenou o rei.
Desonrou suas serviçais.
Tomou conta da torre.
Matou os cavalheiros.
Declarou guerra as feiticeiras.
Queria justiça.

Mero mortal...
Seu castelo será derrubado, destruído, maltratado, humilhado.
De você só restará lembranças... fúnebres.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Maldade

Fogo.
Justiça.
Ferocidade.
Maldade...
Espalhando discórdia, sem poupar mortais.
Dividia seus dois mundos em um só corpo, habitando-a cada instante.
Explorando seu corpo e sua mente.
Fez de sua vida um jogo de xadrez, controlando as peças a seu favor.
Sacrificando os peões, salvando a rainha.
Era como uma Deusa.
Era a Deusa.
Sua malícia e força vem da caça e da noite .
Não tem medo. Ela quer sangue. Ela é sangue.
Seu único amor está descrito em seus olhos.
Olhos que pegam fogo.
Olhos que amam o caos.








segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Reis II

Disputavam rainhas. Uma meretriz, a outra escrava.
E seus destinos levaram a queda do reinado.
Seus castelos caídos pareciam favelas.
Suas rainhas eram prostitutas. 
Seus cavalheiros pareciam mendigos.
Seus cavalos eram cães.
Suas vidas são esgotos.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Listening VI

Chico Buarque  - Tatuagem

Quero ficar no teu corpo
Feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Prá seguir viagem
Quando a noite vem...

E também pra me perpetuar
Em tua escrava
Que você pega, esfrega
Nega, mas não lava...

Quero brincar no teu corpo
Feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem...

E nos músculos exaustos
Do teu braço
Repousar frouxa, murcha
Farta, morta de cansaço...

Quero pesar feito cruz
Nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem...

Quero ser a cicatriz
Risonha e corrosiva
Marcada a frio
Ferro e fogo
Em carne viva...

Corações de mãe, arpões
Sereias e serpentes
Que te rabiscam
O corpo todo
Mas não sentes...


Rotina



Sempre me deito no mesmo horário, com meus livros, minhas músicas e de vez em quando minhas preocupações.
Sei que o sono é apenas uma amostra do verdadeiro descanso, e durmo com o alívio de que amanha nada vai acontecer.
Acordo cansada e enjoada dessa vida fútil. Sem propósito.
Seca, sem emoção.
Vazia, sem amigos.
Solitária, sem perdão.
O carinho mútuo, o amor incerto, a saudade mansa... sentimentos. Todos estes que recebo diariamente, são falsos. Vivo de sorriso tão tolos, que as vezes, nem sei o que estou sentindo.
Esta rotina ordinária só me dá a certeza de que não pertenço a esta vida. Não pertenço. Na verdade, só o que me resta é a confirmação de que estou farta e amanhã nada vai acontecer...


Retorno



Tudo estava tranquilo. As tolices, os erros e as insolências já tinham sido perdoados. Então ela se jogou no mar, achou um aconchego e por ali ficou sem incomodar ninguém. Era estranho esconder sua calda, suas escamas e o seu sabor depois de tanto tempo exposto. A paz se tornara algo tão comum, que a guerra era apenas um pesadelo de uma vida que não existia mais. Mas o tempo se foi com a velocidade do vento. Sentiram falta da agitação, perceberam o seu sumiço e começaram as buscas. Confuso. Já não tinha o por quê de tanta procura. Não havia mais motivos para vingar erros que já foram absolvidos. E toda aquela presença humana sob a água, a incomodava. Mas ela se manteve em silêncio, até que por fim a acharam. Queriam trazê –la para a superfície a qualquer custo. Ela não queria. Tinha nojo da raça humana.  Mas o ódio era tanto, que se esconder ficava cada vez mais difícil. E finalmente apareceu. Bela. Escura. Afiada. Um corpo tão feroz que fazia qualquer homem suspirar. Seus olhos pegavam fogo e seu semblante estava coberto pela raiva. Em plena gritaria, bagunça, sujeira, caos, lançou um grito. Ensurdecedor, cortante, quase um rugido e deu um basta em toda aquela podridão. As águas se encheram de sangue. O céu nublou. Estrondos de trovões se tornaram a única melodia. Corpos caiam um a um. Satisfeita com o fracasso daquelas pobres almas, sorriu. Andou sob as águas, caminhou pela areia e quando se viu de volta a sociedade declarou: “Invadiram a minha casa, perturbaram o meu lar, destruíram o meu sossego. Foi um erro. Estou de volta amor. E desta vez só vou parar quando o meu corpo cair ao chão.” Estas foram suas ultimas palavras.


quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Reis

Comiam como reis.
Bebiam como reis.
Dormiam como reis.
Choravam como reis.
Amavam como reis.
Pensavam como reis.
Mas não eram.
Perderam a guerra.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Volcano

A musicalidade do roçar de suas coxas me emociona. A sensualidade.
O seu olhar cativa, sua voz atrai, seu sorriso convida.
E quando abraça transmite calor.

A sua revolta me aborrece. A raiva.
O seu olhar corroí, sua voz agride, seu sorriso mente.
E quando chora, comove alguém.

A sua petulância me persegue. O ciúmes.
O seu olhar é falso, sua voz é exagerada, seu sorriso amargo.
E quando me vê, suplica a minha volta.

sábado, 3 de agosto de 2013

Uma única lição.



João era um homem simples, que vivia em sua casa de palha, com seu cachorro listrado e sua bicicleta enferrujada. Nunca se importou com riquezas. Bastava uma musica boa, um dia calmo, chá verde e seu dia ficava completo.

Certo dia João decidiu plantar uma semente no quintal. Em menos de duas semanas nasceram duas flores em uma única raiz. Ele ficou espantado, nunca tinha visto algo tão estranho , e por ser estranho decidiu cultivar.

Todos os dias, João sentava no seu banquinho de madeira e ficava observando aquela beleza singular,  e conforme os dias passavam, ele descobria pequenos detalhes que não tinha percebido antes. Pôde perceber que suas flores tinham cores diferentes. Uma vermelha sangue, já a outra escura como a noite, eram delicadas apesar dos espinhos e necessitavam de água todos os dias. Se arrancasse uma, matava a outra. Era como se uma precisasse da outra e as duas precisassem dele.

O tempo foi passando, e numa bela tarde de inverno, uma linda borboleta passou perto de suas flores e chamou toda a sua atenção. Ele a seguiu com o olhar , e não queria perder de vista aquele ser tão bonito, tão angelical e tão santo. Impressionado com a beleza do seu voo e com o mistério em suas asas, não queria que ela se fosse. Queria pra si aquela criatura. E queria agora. E queria todos os dias.
Durante muitos meses, uma voz sondava a sua cabeça dizendo “João, esqueça essas flores, vá atrás da sua felicidade, e embarque nesta aventura.”Tomado por um súbito de loucura,  pegou sua mochila, sua bicicleta e seu cachorro, determinado a  sumir pelo mundo em busca da sua “tal” felicidade, em busca de sua borboleta e em busca da única criatura que fez o seu coração bater forte.

Anos depois João volta a sua casa, com os cabelos grisalhos, o olhar triste, e com uma bengala no lugar de sua bicicleta. O seu cachorro, pobre Listrado, uma mera lembrança. Estava decepcionado por ter largado uma vida inteira de sonhos , descobertas e aventuras por uma linda criatura que nada mais era do que ilusão.

E para sua surpresa, as flores ainda estavam lá. Intactas, vivas e saudáveis. Elas sim eram reais. Sentiu o vento em seus cabelos pálidos, o coração pulsando mais forte, as pernas trêmulas, e com um suspiro de esperança, se sentiu jovem de novo. Queria cheirar, tocar e cuidar daquele pedaço de nostalgia que tornara sua juventude viva. Mas ao tocá-las , as pétalas murcharam, o caule apodreceu e finalmente morreram. E a única parte que restou dessa estranha amizade foi um espinho cravado em seu dedo. Assim, João entendeu que para o esquecimento, resta apenas uma consequência. E esta foi a maior lição que aprendeu em toda sua vida.


A Moça


Parecia sensual.
Sagaz.
Audaciosa.
Virtuosa.
Com vontade.
Pedia usando seus truques luxuriosos.
E possuía. Desejava só com ela,só para ela.
Chorava.

Parecia imóvel.
Pensativa.
Autêntica.
Presunçosa.
Com raiva.
Amou tanto que mal cabia no peito.
E gritava. Explanava seu sofrimento, pelos quatro cantos do quarto.
Se contorcia.

Parecia castigada.
Corroída.
Dependente.
Desprevenida.
Com rejeição.
Obcecada ameaçando seus amores.
E batia. Clamava perdão, jogada no tapete.
 Implorava reciprocidade.