sábado, 3 de agosto de 2013

Uma única lição.



João era um homem simples, que vivia em sua casa de palha, com seu cachorro listrado e sua bicicleta enferrujada. Nunca se importou com riquezas. Bastava uma musica boa, um dia calmo, chá verde e seu dia ficava completo.

Certo dia João decidiu plantar uma semente no quintal. Em menos de duas semanas nasceram duas flores em uma única raiz. Ele ficou espantado, nunca tinha visto algo tão estranho , e por ser estranho decidiu cultivar.

Todos os dias, João sentava no seu banquinho de madeira e ficava observando aquela beleza singular,  e conforme os dias passavam, ele descobria pequenos detalhes que não tinha percebido antes. Pôde perceber que suas flores tinham cores diferentes. Uma vermelha sangue, já a outra escura como a noite, eram delicadas apesar dos espinhos e necessitavam de água todos os dias. Se arrancasse uma, matava a outra. Era como se uma precisasse da outra e as duas precisassem dele.

O tempo foi passando, e numa bela tarde de inverno, uma linda borboleta passou perto de suas flores e chamou toda a sua atenção. Ele a seguiu com o olhar , e não queria perder de vista aquele ser tão bonito, tão angelical e tão santo. Impressionado com a beleza do seu voo e com o mistério em suas asas, não queria que ela se fosse. Queria pra si aquela criatura. E queria agora. E queria todos os dias.
Durante muitos meses, uma voz sondava a sua cabeça dizendo “João, esqueça essas flores, vá atrás da sua felicidade, e embarque nesta aventura.”Tomado por um súbito de loucura,  pegou sua mochila, sua bicicleta e seu cachorro, determinado a  sumir pelo mundo em busca da sua “tal” felicidade, em busca de sua borboleta e em busca da única criatura que fez o seu coração bater forte.

Anos depois João volta a sua casa, com os cabelos grisalhos, o olhar triste, e com uma bengala no lugar de sua bicicleta. O seu cachorro, pobre Listrado, uma mera lembrança. Estava decepcionado por ter largado uma vida inteira de sonhos , descobertas e aventuras por uma linda criatura que nada mais era do que ilusão.

E para sua surpresa, as flores ainda estavam lá. Intactas, vivas e saudáveis. Elas sim eram reais. Sentiu o vento em seus cabelos pálidos, o coração pulsando mais forte, as pernas trêmulas, e com um suspiro de esperança, se sentiu jovem de novo. Queria cheirar, tocar e cuidar daquele pedaço de nostalgia que tornara sua juventude viva. Mas ao tocá-las , as pétalas murcharam, o caule apodreceu e finalmente morreram. E a única parte que restou dessa estranha amizade foi um espinho cravado em seu dedo. Assim, João entendeu que para o esquecimento, resta apenas uma consequência. E esta foi a maior lição que aprendeu em toda sua vida.


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