Hoje eu me despi.
Tirei minhas roupas, limpei a maquiagem, sequei o suor.
Guardei alguns sorrisos falsos, uns olhares indecifráveis, alguns pensamentos sujos, e ainda sobrou espaço para muita maldade.
Hoje eu me despi de mim.
O que sobrou ?
Um corpo seco e medíocre, desprovido de pureza e corroído pelo cansaço, que algum dia por um descuido demonstrou um pouco de fragilidade e recebeu a caridade em troca. Alguém que nunca se fez importante, e que conseguiu muitas coisas no grito ou por pena. Que foi pisoteado muitas vezes e se alimentou da ilusão para não sentir dor.
Que usou dos seus métodos auto destrutivos para sobreviver, e com muito esforço conseguiu sorrir. E quando teve a oportunidade de gritar, como nunca gritou antes, recuou.
Covardia ? Medo ? Frustração ?
Covardia ? Medo ? Frustração ?
As vezes, só as vezes, é preciso estar ciente da nossa condição.
Tenho muito medo do amanhã, e não voltaria ao passado.
Não sei o que a morte me reserva, mas sei que do futuro guardarei muitas mágoas.
Hoje, com toda a verdade que restou em mim, posso dizer, que enquanto eu puder respirar, sentir e até mesmo me arrepender, lutarei bravamente com essa criatura que me consome e me suga constantemente, me levando ao céu e ao inferno.
Sempre haverá uma guerra com muito sangue e nenhuma vitória.
Antes disto ou daquilo, antes de você e de nós, eu sempre estarei aqui.
E no auge do meu egoísmo eu levarei todos os meus eus embora, para que os mesmos não destruam a felicidade alheia.