quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Sobre a vida que herdei

O meu sangue contém histórias de um tempo que nunca existiu, mas que sempre se fez presente. Contém o corte de uma lenda, o grito de uma guerra sem dor, o cheiro de um homem que amei e um sabor de uma despedida cruel. Meu sangue sente falta de um prazer sem fim, nunca experimentado. Minha origem é constituída de vozes e apelos de um passado morto com a ponta de uma adaga. O fogo queima cada vez mais rápido. E a cada veia incendiada, o pensamento renasce. O teu sangue precisa do meu. Precisa do meu distanciamento contínuo.
Mas nada disso é real, e o que me sobra são trapos, poeiras e imagens de uma vida imaginária criada pelos nossos maiores pecados.


sábado, 1 de fevereiro de 2014

O Tempo

O tempo determina a vida.
As vezes ele cria, outras ele mata.
E o relógio não para, não tem piedade, não sofre amor.
Enquanto o cronômetro segue, a contagem regressiva até a morte se estabelece.

Quantos dias?
Dois ou três, não lembro.
Seria inconveniente o chamar?
Parecia perturbado.
Ou era eu?
Não sei dizer o exato momento em que me puxou.
Uma volta.
E prometi pra mim mesma que voltaria para casa.
Ele mostrava o caminho entediado.
Ninguém apareceu.
Sem palavras, sem toque, sem olhares.
Só caminhamos.

O tempo me encurralou.
A chegada seria a partida.
Quem foi que disse que o tempo era cruel?