quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Retorno



Tudo estava tranquilo. As tolices, os erros e as insolências já tinham sido perdoados. Então ela se jogou no mar, achou um aconchego e por ali ficou sem incomodar ninguém. Era estranho esconder sua calda, suas escamas e o seu sabor depois de tanto tempo exposto. A paz se tornara algo tão comum, que a guerra era apenas um pesadelo de uma vida que não existia mais. Mas o tempo se foi com a velocidade do vento. Sentiram falta da agitação, perceberam o seu sumiço e começaram as buscas. Confuso. Já não tinha o por quê de tanta procura. Não havia mais motivos para vingar erros que já foram absolvidos. E toda aquela presença humana sob a água, a incomodava. Mas ela se manteve em silêncio, até que por fim a acharam. Queriam trazê –la para a superfície a qualquer custo. Ela não queria. Tinha nojo da raça humana.  Mas o ódio era tanto, que se esconder ficava cada vez mais difícil. E finalmente apareceu. Bela. Escura. Afiada. Um corpo tão feroz que fazia qualquer homem suspirar. Seus olhos pegavam fogo e seu semblante estava coberto pela raiva. Em plena gritaria, bagunça, sujeira, caos, lançou um grito. Ensurdecedor, cortante, quase um rugido e deu um basta em toda aquela podridão. As águas se encheram de sangue. O céu nublou. Estrondos de trovões se tornaram a única melodia. Corpos caiam um a um. Satisfeita com o fracasso daquelas pobres almas, sorriu. Andou sob as águas, caminhou pela areia e quando se viu de volta a sociedade declarou: “Invadiram a minha casa, perturbaram o meu lar, destruíram o meu sossego. Foi um erro. Estou de volta amor. E desta vez só vou parar quando o meu corpo cair ao chão.” Estas foram suas ultimas palavras.


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